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A ciência das plantas daninhas_updated.

A razão do review deste post trata-se da publicação de um artigo do professor Robinson Antonio Pitelli na Revista Planta Daninha, onde os termos relacionados a nossa área são discutidos e  onde é proposto um termo único padrão a ser seguido em nossas publicações. Ainda a publicação de dois informes sobre as plantas daninhas (termos e fatos) pela WSSA. Segue o post atualizado.

A Ciência das Plantas-daninhas.

A primeira citação destas plantas está presente no livro mais vendido no mundo, a Bíblia. É em uma das parábolas de Jesus, na qual é dito que o joio (planta daninha) deve ser separado do trigo (cultura). O curioso é que, nesta mesma parábola, cita-se algo sobre a convivência das espécies. Sabe-se que a erradicação de plantas daninhas é uma tarefa muito difícil, senão, impossível; portanto, qual o período ideal em que o controle deve ser feito? O homem, desde que passou a cultivar alimentos, passou a ter de conviver com a presença de tais plantas e cabe a ele estabelecer este limite.

         Sendo assim, vem a pergunta: o que é uma planta daninha? Uma das definições mais antigas é que são plantas que crescem onde não são desejadas (BLATCHLEY, 1912). Porém, como muito se repete na ciência, esta definição é puramente antrópica. Uma planta daninha, não é daninha por causar um efeito negativo e, sim, um efeito negativo na atividade humana. A mesma planta que causa prejuízos pode ser benéfica, perdendo seu “dano”, sendo apenas infestante. E quando a planta não causa dano? Como exemplo temos; plantas que impedem a erosão de um terreno, possuem valor medicinal, entre outros. Nestes casos, deixam de ser daninhas. Outro exemplo, é quando a própria planta cultivada se torna uma planta daninha, tal como uma espiga de milho que cai na colheita e vai originar várias plantas em um próximo cultivo. Neste caso, a planta daninha recebe o nome de resteva, tiguera (termos mais regionais) ou então planta voluntária.

          Nos anos seguintes, após a primeira conceituação de planta daninha, Blanco já inseria o caráter de interferência nas atividades humanas na palavra (BLANCO, 1972). Em 1973, Fisher propunha o conceito de que estes indivíduos são plantas que interferem nos objetivos do homem apenas em determinadas situações. Este mesmo conceito foi reforçado por outros autores (SILVA; SILVA, 2007). Hoje, portanto, esta definição leva em conta fatores temporais e espaciais. Para ser daninha, a presença da planta deve causar um potencial prejuízo em determinado local e naquele determinado momento.

          A palavra possui muitos sinônimos. No Brasil, a planta daninha pode ser conhecida como planta invasora, planta infestante, erva daninha, erva invasora, mato ou inço. Porém, algumas destas definições são equivocadas. Nem toda planta daninha é uma erva (planta sem crescimento secundário), nem toda planta invasora é daninha (haja vista a definição da palavra) e nem toda infestante é daninha. Assim ficamos com o conceito de plantas daninhas (o objetivo de estudo concentra-se quando esta planta nos traz problemas) ou simplesmente o mato (do latim MATTA, esteira de junco, bosque, floresta).  Segundo Pitelli, 2015, o termo mato não é também adequado, pois pressupões um coletivo de plantas e não um individuo ou uma população. Sendo assim designa-se o termo PLANTA-DANINHA como o termo ideal para designar qualquer planta superior que interfira nos interesses do homem e no meio ambiente, e o termo comunidade infestante seguido da qualificação do ambiente de ocorrência para publicações em português derivadas de autores brasileiros.

         Na língua inglesa, são definidas por “Weeds”, na espanhola por “Malezas”, na francesa por “Mauvaise herb” e na italiana por “mallerbe” e “unkraut” no alemão (Pitelli, 2015). Assim também a ciência das plantas daninhas possui várias definições. São elas: Ciência das Plantas Daninhas, Herbologia (conceito não apropriado, dadas as explicações acima) e Matologia. Na língua inglesa, o termo define-se como “Weed Science”, e em espanhol como “Malherbologia”.  No Brasil, a primeira reunião para se discutir o tema ocorreu em 1956 no Instituto de Ecologia e Experimentação (Estrada Rio-SP). Em 1963, foi criada a Sociedade Brasileira de Herbicidas e Ervas Daninhas (SBHED). Em 1978, foi criada a revista científica “Planta Daninha”. Em 1960, surgiu o primeiro curso de controle de plantas daninhas no Brasil, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, ESALQ, USP. Hoje, a Sociedade denomina-se por Sociedade Brasileira da Ciência das Plantas Daninhas e tem como publicação dois periódicos; a “Revista Brasileira de Herbicidas” e a revista “Planta Daninha”.

          E de onde surgiram as plantas daninhas? Supõe-se como origem destas plantas, distúrbios naturais, como glaciações, desmoronamentos e ações de rios e mares (MUZIK, 1970). Porém, novamente a ação humana causou e causa a evolução destas. Segundo Baker (1974), três teorias são propostas: I. Espécies selvagens adaptaram-se e foram selecionadas. II. Hibridações entre espécies selvagens e raças cultivadas de espécies domesticadas. III. Espécies abandonadas no processo de domesticação por não terem valor conhecido na época. Hoje, sabe-se que as três teorias se complementam. O homem seleciona plantas, como, por exemplo, plantas daninhas resistentes a herbicidas (assunto a ser discutido a posteriori), além de que o cruzamento entre plantas e consequente transferência de material genético é passível de ocorrer. Acrescenta-se a estas teorias, ainda, que frequentemente mutações genéticas são geradas em indivíduos isolados e que estas podem impactar de maneira significativa toda a sobrevivência da espécie.

            Segundo Pitelli 2015, estas plantas são consideradas pioneiras, ou seja, plantas evolutivamente adaptadas para a ocupação de áreas onde, por algum motivo, a vegetação original foi profundamente alterada, ocorrendo grande disponibilidade de hábitats ao crescimento vegetal. Elas criam habitats adequados ao inicio de uma sucessão de populações, que culmina no restabelecimento da vegetação original.

          Muitas pessoas surpreendem-se na hora que descobrem a existência de um ramo da ciência que se dedica ao estudo de tais plantas. Porém, a importância destas não passou despercebida ao longo da história. Segundo a FAO, nos anos 60-70, mais de um terço do potencial agrícola de áreas cultivadas foi perdido devido à presença de pragas, entre as quais as plantas daninhas. Até hoje, estas perdas são significativas (média de 4-15 %, segundo OERKE, 2006). A Ciência das Plantas Daninhas é uma ciência não tão antiga (pouco mais de 60 anos) e vem sendo cada vez mais valorizada. Novas descobertas, entre elas o avanço da engenharia genética, ganham destaque no cenário científico. A premissa de que os transgênicos acabariam com os problemas das daninhas foi derrubada com a seleção de plantas resistentes. Novos problemas surgiram. Todas estas novas tecnologias serão assuntos futuros aqui.

          Por curiosidade, em 1977, foram publicadas as 10 piores plantas daninhas do mundo (HOLM, 1977). O primeiro lugar é ocupado por uma planta bem conhecida, a tiririca (Cyperus rotundus). Do segundo ao sexto lugares, estão presentes gramíneas, tais como grama-seda (Cynodon dactylon) e o capim-pé-de-galinha (Eleusine indica). Caso queira ler mais sobre o assunto, acesse o texto do professor Pedro Christoffoleti (Ciência das Plantas Daninhas).

       Ainda a WSSA, lançou dois informativos muito interessante. Um trata-se das diferenças entre planta-daninha, planta nociva, planta invasora e superweed. Outro, sobre fatos das plantas daninhas, como fundamentos, impactos em culturas, saúde humana, animais, etc.. Ambos podem ser baixados aqui e aqui.


As piores plantas daninhas do mundo.

As piores plantas daninhas do mundo.


LITERATURA CITADA

BAKER, H. C. The evolution of weeds. Annual Rev. Ecol. Syst., v.5, p.1-24, 1974.

BLANCO, H. G. A importância dos estudos ecológicos nos programas de controle das plantas daninhas. O biológico, v.38, n.10, p.343-350, 1972.

BLATCHLEY, W. S. The Indiana weed book. Indianapolis, EUA: The Nature Publishing Company, 1912, 192 p.

BUCHHOLTZ, K. P. Report of the terminology committee of the Weed Science Society of America. Weeds, n.15, p.388-389, 1967.

FISHER, H. H. Conceito de erva daninha. In: RODRIGUES, J. J. do V.; WILLIAM, R. D. (Coord.). Controle de ervas daninhas. Viçosa: UFV, 1973. p. 5-10.

HOLM, L.G., Plucknett, D.L., Pancho, J.V., Herberger, J.P.; (1977). The World’s Worst Weeds:  Distribution and Biology. Honolulu, HI:  University Press of Hawaii.

MUZIK, T. J. Weed Biology and Control. New York, EUA: McGrawHill, 1970, 273p.

PITELLI, RA. O termo planta-daninha. Planta Daninha, v.33, n.3, 2015.

OERKE, E.C. Crop losses to pests. Journal of Ag. Sciences, v. 144, n. 1, p. 31-41, 2006.

SILVA, A. A.; SILVA, J. F. Tópicos em manejo de plantas daninhas. UFV: Viçosa, 2007. 367 p.

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